28/02/2007

Beja - Que recordações?

Lembro-me da S. estar a falar com o professor de Inglês, um “rapaz” com 33 anos durante uma aula e de, em vez de dizer que nós o achávamos um professor flexível, por isso resolvemos convidá-lo para darmos uma aula ao ar livre, apenas disse: “nós achamos o professor bastante sexível…”. O erro até passava despercebido não fosse o T. dizer: “As raparigas é que acham isso os rapazes não…”
Também na aula de Inglês, lembro-me de uma colega que era péssima à disciplina, perguntar o que queria dizer unhapi em vez de unhappy.
Lembro-me também da M. C. dormir em todas as aulas, principalmente na de música. Nós bem lhe dávamos pontapés na cadeira mas não adiantava nada. Foi ele a protagonista de uma cena espectacular na aula de Probabilidades e Estatística.
Enquanto dormia, o professor ia explicando uma fórmula. Às tantas o professor diz: “Não me digam que não sabem a resposta a isto”, depois de algumas tentativas frustadas de alguns colegas, ela acorda e diz: “Não vês que é x+1?”. Foi uma gargalhada geral…
No 1º ano, tivemos um professor de português que parecia saído da Ilha da Fantasia, só faltavam as camisas coloridas e os colares de flores. Usava sempre calças brancas (quem sabe se não eram sempre as mesmas), parecia só cortar o cabelo de 6 em 6 meses, as piadas faziam morrer os mortos e não sabia dar aulas (nem sequer sabia o que dar).
No primeiro dia de aulas, olhou para nós e como éramos da área de matemática, lá pensou que não sabíamos escrever ou que éramos deficientes e pediu-nos: “Na próxima aula quero que me tragam uma composição sobre o 8 e o infinito.” Tive um colega, o H. que apenas escreveu que, como o símbolo matemático do infinito é representado por um 8 deitado, esse mesmo símbolo era um oito alentejano.

27/02/2007

Aula assistida e outros

19 de Março de 1996
Terça-feira
Dia do pai (Qual pai?)

A F. deu hoje a primeira aula de Ciências – O Aparelho Reprodutor Feminino. Como não podia deixar de ser, apareceu “o terror” (o tal que tem 16 anos e ainda anda no 6º ano). Já devia ter ouvido falar do tema das últimas aulas e não quis deixar de dar a sua contribuição. Para tal, trouxe três revistas pornográficas. Acho que dispensa comentários, a aula passou a “girar” em torno dele… Nem o professor M. o conseguiu acalmar dizendo que era cinturão castanho em Karaté.
“Descobri” numa revista um texto que gostei muito e que vou, em parte, transcrever:

Gostar acima de tudo

Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, com entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas; leia-se: dividas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso. (…)
Os amigos têm que ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objectivo. É impossível lembrarmo-nos como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter. (…)
Os amigos não se perdoam nem se julgam. Têm-se ou não se têm. Falam. Gozam. Riem. As diferenças entre eles unem-nos, ocupam-nos, divertem-nos – a única igualdade necessária, a de serem amigos, já existe. (…) Estas são as pessoas que se invocam, estejamos sozinhos ou acompanhados pelos amigos como se fossem. E são.
Cardoso, Miguel Esteves; “Explicações de Português”; Revista Vida – Independente; 1 de Março de 1996.

26/02/2007

Prática Pedagógica

28 de Fevereiro de 1996
Quarta-feira


Na altura das Práticas Pedagógicas (dar aulas enquanto somos avaliados) ninguém bate bem, acho que nem nós enquanto alunos nem os nossos professores que nos avaliam, dada a sobrecarga de trabalho. Nós demos aulas e tivemos aulas o que não acontecia com outros cursos via-ensino noutras universidades…
***
A caminho de casa “discuti” coma dona da papelaria por ainda não terem chegado os fascículos da colecção «Minerais» que me faltam.
Parou um carro ao pé de mim para me perguntarem: “Isto é Beja, não é?”
Não respondi.
Seguiram-se uma série de buzinadelas dos carros que estavam atrás do primeiro.
Mais à frente há outro carro que abranda. O condutor disse qualquer coisa do género: “Eh, carapau!”
Isto está a correr muito bem.
Há outro dos três professores que ainda não pegou nos nossos exames…
Tive 17 valores a Informática, mas o professor ainda não (esqueceu-se) avaliou o segundo trabalho – além de estúpido é anormal!…
É impossível manter uma conversa racional com alguém da minha turma. Encontrei o Pedro num corredor da escola que me disse:
“Vou dar os transportes, tenho que utilizar os corantes, não é?”
(????)
“O quê?” – perguntei.
(repetiu)
Depois de me sintonizar, adivinhei que ele estava a falar nos transportes desde a raiz até ás pétalas das flores (seiva bruta), e que era necessário usar corantes para provar isso.
“Sim, sim” – disse eu.
Virei-me para ver se avistava um professor (qualquer um, tal era o desespero), e quando me voltei para lhe fazer uma pergunta…o Pedro tinha desaparecido!
Voltei a encontrá-lo uns minutos mais tarde:
“Quanto é que custa um cravo? Preciso de cravos, cravos brancos.”
(????)
“Não sei, mas sei que as rosas não são muito caras…”
Trinta minutos mais tarde, encontrei-o à entrada da escola com uns cinco cravos brancos…
Foi então que se fez luz… Entre a minha preocupação em encontrar a professora A., a professora T., a professora M. e o compreender o que o Pedro queria, “descobri”:
“Ah! Os cravos são para a experiência não é? Vais colorir as pétalas do cravo mergulhando o caule num copo com água corada?”
“Claro! Pensavas que eram para ti? Quer dizer, podiam ser, mas…”
“Não…” – respondi, mas ninguém estava a ouvir, já estavam todos sintonizados noutra estação qualquer, e já tinham o radar a trabalhar para encontrar professores.
Fiquei a saber que os nossos professores têm horários sobrepostos. Por exemplo: Assistir à aula do aluno x e do aluno Y, à mesma hora e em escolas diferentes. Um destes alunos não vai ser avaliado, normalmente, aquele cuja escola em que está a leccionar fica mais longe… Que raiva! Que falta de organização…
Já tenho o nome de três ou quatro professores, eu odeio este tipo de coisas, mas só se safa quem pode… e pode ser que não seja necessário chateá-los em casa…
***
Felizmente nunca foi preciso telefonar para casa de nenhum como fizeram montes de colegas.
Acho que apesar do desespero, o professor tem que ter o seu espaço e não ser chateado fora do horário lectivo...
Houve tanta gente que se aproveitou disso para dar graxa...

25/02/2007

A aula


8 de Março de 1996
Sexta-feira


O T. saiu daqui agora. Disse que a aula foi um fartote de rir. Os miúdos não sabiam os termos científicos e então utilizavam o calão:
Pergunta do T.: “Alguém sabe como se chama esta parte terminal do pénis?”
Resposta: «é a cabeça, é a cabeça (…), cabecinha pensadora…»
Mais tarde o T. mostrou o painel e perguntou: «Para se dar o acto sexual, o pénis fica assim (flácido), ou é necessário haver alguma alteração?»
Resposta: «Ah! Ás vezes fica assim..» – disse um matulãozinho que já devia ter uns 16 anos.
O T. contou-me que o professor que foi assistir à aula se fartou de rir, e que o professor da turma chegou a levar a mão à cara.
Outra coisa que ele me contou, foi que chegou a ouvir os miúdos a dizer asneiras baixinho, as tais palavras em calão. Disse-me também que havia uma miúda que ficava histérica sempre que ouvia uma palavra do género: erecção. Teve que a sentar na fila da frente. Fiquei admirada quando me contou que os miúdos não sabiam o que era e nunca tinham “visto” espermatozoídes. Quanto a mim, vamos lá ver o que me espera…
Para melhor me preparar para dar a aula, resolvi ir assistir à aula da N., que também ia falar sobre o mesmo assunto. Fiquei a «saber» que:
«A fecundação é baby sitting»;
«A reprodução é feita com um pénis e uma Virgínia».
Finalmente dei a minha aula. A turma não parecia a mesma, faltou o «palhaço» da sala. Podiam até ouvir-se as moscas…
A aula não correu mal, tirando o burburinho constante e o facto de ficarem todos muito sérios a olhar para mim enquanto eu falava (principalmente o que tinha 16 e o que tinha 17 anos). Cheguei até a pensar que isso se ia reflectir na minha avaliação desta aula uma vez que os miúdos não participavam muito, pelo menos no princípio.
O B. acabou agora de fazer uma cena de ciúmes ao telefone, porque lhe contei que tinha sugerido ao T. que se ele não encontrasse um painel do sistema reprodutor masculino, em último recurso, sempre poderia projectar o seu próprio aparelho reprodutor no projector de opacos.
Perguntas que os miúdos me fizeram:
«O que é o esperma?»
«O que é a erecção?»
«O que são os pelos cúbicos

24/02/2007

O órgão reprodutor masculino - preparação da aula

Apesar de ser longo vale a pena ler este post.
Trata-se da preparação da primeira aula a ser dada no 2º ciclo (vou ser avaliada). Como seria de esperar uma coisa diferente (tudo me acontece) é sobre a reprodução humana - aparelho reprodutor masculino.
Podiam ter-me calhado as plantinhas, os animaizinhos, ou mesmo as rochas... mas não. Tinha que ser isto!

7 de Março de1996
Quinta-feira


Combinei encontrar-me com o T. na escola dos miúdos às 11:30h, eu procurei na parte da escola em que ele não estava e ele vice versa. Encontrámo-nos num corredor já com expressões de desespero. Trocámos ideias sobre como leccionar a aula sobre a reprodução.
Como não sabíamos se a nossa escola tinha painéis sobre este conteúdo, e não encontrámos no sítio onde deviam estar na escola dos miúdos, resolvemos perguntar ao contínuo.

Resposta: “Mas há lá na sala de arrumações de ciências, não viram? Têm lá o espanta pardais!” (???).
É claro que não percebemos o que é que ele nos queria dizer, será que ele se referia ao esqueleto a três dimensões? Bem, de qualquer maneira não sei onde é que ele viu o aparelho reprodutor num esqueleto… Depois desta resposta inteligente, mandou-nos falar com outra auxiliar da educação.

“Hã?” – respondeu ela. Depois, m-u-i-t-o d-e-v-a-g-a-r-i-n-h-o l-e-v-a-n-t-o-u—s-e e dirigiu-se à sala de ciências da natureza, onde encontrámos tudo menos o que queríamos. Até vimos um painel que representava o ciclo de vida de uma amêijoa.
Como já era tarde resolvemos almoçar primeiro numa Hamburgaria. Estávamos a discutir a função da próstata, quando reparámos que havia muita gente a olhar para nós. Resolvemos comer primeiro.
Posteriormente fomos à Biblioteca Municipal e vimos três filmes (em fast forward) sobre a reprodução. Estavam umas empregadas atrás de nós que, em vez de se “tocarem” e falarem mais baixo, não, falavam cada vez mais alto. Como nós não conseguíamos ouvir, pusemos o som mais alto, consequentemente, elas falaram mais alto. Apenas se calaram uns segundos quando ouviram a seguinte frase sair da televisão: “dá-se a intumescência do órgão”
Seguidamente fomos à secção dos materiais didácticos para professores, perguntámos à empregada o que havia sobre o aparelho reprodutor e ela foi buscar a caixa dos “bonecos a três dimensões”. É claro que ficámos com uma enorme vontade de rir, mas apenas mostrámos cara de parvos (mistura entre rir e espanto). Afinal, o que ela andava à procura era a caixa dos slides (que tinham sido requisitados).
Como ainda não tínhamos o bendito painel, acabámos por ir à universidade. Encontrámos um bom painel. Então ele ingenuamente perguntou: “Este está bom para ti?” (Este painel e não este tamanho de órgão reprodutor). Quando eu ia a responder ouviram-se as gargalhadas estridentes da São (responsável pelos laboratórios e pela requisição de material didáctico). Começámos todos a rir.
Estávamos muito carregados: fotocópias, livros, grelhas… E agora mais o painel entrámos na fase do “quem é que pega nisto?”. A São continuava a rir-se que nem uma desalmada.
Estou curiosa para saber como lhe vai correr a aula, a minha deverá ser mais ou menos a mesma coisa uma vez que as planificações são iguais. Será que os miúdos vão gozar muito? Ele ainda me perguntou se eu queria ir assistir à aula dele amanhã de manhã, mas não estou para me levantar cedo, aliás porque na Sexta-feira á noite quero estar fresquinha para o meu amor.
Foi engraçado trabalhar com ele, ainda por cima sobre este tema, fartámo-nos de rir.
Com isto tudo, fiquei farta de ver pénis em slides, imagens de televisão, figuras de livros, painéis, etc. Pelo menos tão depressa não me esqueço das funções de cada órgão que constitui o aparelho reprodutor masculino.

23/02/2007

A saga continua...

5 de Dezembro de 1993
Domingo

De manhã fui às compras, cheguei a casa eram 11:00h. Passei pelo Alexandre, estava com uma cara muito triste a olhar para o telefone. Perguntei-lhe se estava chateado e ele respondeu “São as mulheres, não sabes como são as mulheres?”. Fui para o quarto, afinal o problema era dele…
Mais tarde fiquei a saber que ontem à noite, quando ele foi à discoteca com as minhas meias e a Sandra, enquanto ela foi à porta ver se o taxi já tinha chegado, ele atracou-se aos beijos com outra.
Não percebi muito bem, mas como Sua Majestade “O Cagalhão” que não pode com o cu, telefonou à namorada para vir cá a casa para fazerem as pazes. O mais ridículo no meio disto tudo, é que ela veio. Acabaram por fazer as pazes.
Á noite voltou tudo ao normal, ele voltou a berrar com a avó e a discutir com a namorada. Ele há cada um!…

6 de Dezembro de 1993
Segunda-feira


Não aconteceu nada de especial hoje.
De manhã telefonei ao Bruno (a melhor parte do dia) até acabar com o cartão telefónico. Telefonei-lhe da escola.
À noite voltei a jantar aqui em casa. Depois da novela (e como sempre) a velha e surda Bia, vai baixando a cabeça até ficar com a testa apoiada na mesa. Nessa altura, a Dona Maria Augusta levanta-lhe descontraidamente a testa e põe-lhe uma almofada, na qual ela enterra o nariz.
O Pinóquio (cão) é outro problema, ressona muito alto. De vez em quando também dá traques... É uma corrente de ar aquele cão! Tenho de me levantar várias vezes para aumentar o som da televisão.

7 de Dezembro de 1993
Terça-feira


Amanhã é feriado.
Hoje fui almoçar fora, também mereço, afinal também pago impostos.
O estúpido do empregado de mesa era muito branco, tinha muita brilhantina e aparecia-me à frente de repente, como se se materializasse. Assustei-me pelo menos umas duas vezes. De uma delas ia deixando cair a travessa ao chão, da outra vez, com o susto, bati com o garfo e com a faca no prato. Parecia um concerto!
Tive hoje pela primeira vez Movimento e Drama. Nesta disciplina o objectivo principal é fazermos figura de parvos. Hoje, gritámos, batemos com as mãos nas paredes, rebolamos no chão, enfim…

9 de Dezembro de 1993
Quinta-feira


Ontem estudei o dia todo. Hoje tive uma frequência de matemática. Até agora só tive 2h de aulas desta disciplina e nem sequer foram de revisões.
Felizmente correu-me bem, tenho mais de metade certo. Não levei cábulas, embora todos o tivessem feito. Quando faltou a luz durante quase cinco minutos foi uma barulheira insuportável. Comi uma tosta mista e bebi um galão ao almoço. Reparei como as empregadas apenas lavavam as mãos para mexer no dinheiro. Afinal, é aborrecido pegar nas moedas e nas notas com os dedos cheios de migalhas.
Durante a hora teórica vimos slides. Na hora prática fizemos aquecimento ao som de música de discoteca e depois dançamos folclore. Foi preciso entrar na universidade para dançar folclore!
Jantei em casa. Estudei Geometria para a frequência de amanhã até à meia noite. Estou completamente K.O. Nunca mais vi as minhas meias.

Eu realmente, quando olho para trás... não sei como consegui acabar o curso e muito menos acabá-lo em 4 anos... (não sou nenhuma heroína mas que custou, CUSTOU!)

Uma pessoa que passou por tanto em casa, não poderia ter ido parar à casa de uma família normal para poder tirar o curso com calma (apesar da pressa)?

Lembro-me de ter «falado» ao meu pai da hípótese de mudar de casa ao que ele respondeu qualquer coisa como: «Pois tu queres é andar à vontade, sem ninguém te controlar... nem penses!»

Consegui no entanto mudar de casa no ano lectivo seguinte (se não me engano), quando os gemidos nocturnos do Alexandre e da namorada se começaram a fazer ouvir...

22/02/2007

Terceiro dia em Beja

4 de Dezembro de 1993
Sábado


Levantei-me eram 10:30h. Quando fui tomar o pequeno almoço, ouvi o Alexandre a discutir com a avó na cozinha. Quando lá cheguei vi aquele cagalhão de boxers (horrível, ia vomitando) e de T-shirt.
Conclusão: Quando vem visitar a avó não trás roupa, depois quer que ela invente umas meias.
O mais engraçado é que sobra sempre para mim: “Olha Miguel, se a Nadine (não sei onde é que ela foi buscar este nome!!!), tiver umas meias que te empreste, e te sirvam…
O que é que eu podia fazer? Ela ajudou-me (contra a minha vontade) a desfazer as malas…Sabia que eu tinha meias. Aqui a desgraçada teve de lhe emprestar umas meias brancas, novinhas. Só a mim é que me acontece disto! Que mais me irá acontecer?!…
Antes do almoço fui com a Dona Maria Augusta comprar uma saco desportivo, pelo menos pensava eu…
Assim que chegámos a casa pedi-lhe se podia telefonar para Lisboa de casa dela, depois de eu lhe ter trazido as compras, ela não ia negar. Sempre que falo com ele é revigorante…
A namorada do Alexandre estava lá em casa. Aqueles dois são incríveis, batem-se, beliscam-se, estalam os dedos um ao outro, chamam nomes um ao outro… Por falar nisso, eles tratam-se por “bicho”. Como estamos no Alentejo, o som do último ó é arrastado.
Ela: “Então bicho, vamos ou não?”
Ele: “Vou telefonar primeiro ao meu pai. Queres falar com ele bicho?”
Eu até pensei que estava a ouvir mal…
O que me chateia é que aquele camelo vai para a discoteca com as minhas meias.
A parva da gata já me arranhou outra vez, e não é preciso muito, basta só passarmos por ela.
No outro dia a Dona Maria Augusta disse-me que o Joaquim estava enterrado no quintal. Até fiquei gelada…Afinal era o cágado que tinha hibernado!
Neste momento estou no meu quarto sentada na cama. Ao meu lado esquerdo está um poster de 2m de altura por 1,5m de largura do Alien 3 – A desforra, em que aparece a Sigourney Weaver a quase ser beijada por aquele monstro todo babado e com duas dentaduras. Esta gente não regula bem…
Eu não quero saber se o falecido marido dela tenha sido deputado, que ela já tenha pago 30 mil contos de indemnizações durante o 25 de Abril aos 150 empregados que tinham, eu nem sequer cá estava!
Se o avô dela, teve uma fortuna colossal de 600 contos, e se o pai dela morreu com 101 anos, eu sinceramente estou a cagar-me para isso!
Se o Alexandre vai tirar um curso na Bélgica durante 15 dias, ainda este mês, melhor para ele, assim não chateia ninguém.
Se ela já foi à Itália, França, América e mais não sei onde, bom para ela.Onde eu me vim meter…
Eu só quero acabar o curso... e TENHO PRESSA!

21/02/2007

O segundo dia de aulas (1993)


3 de Dezembro de 1993
Sexta-feira


Levantei-me à hora prevista, mas só consegui tomar banho às 9:00h. Entretanto, tive bastante tempo para pensar no que me disseram ontem à noite algumas colegas, no caminho para casa: segunda-feira, frequência de Morfologia e Fisiologia Vegetal, quinta-feira de matemática, e já nem sei as outras. Ontem à noite, contei isso ao B. no telefonema que lhe fiz. Ele disse que me telefonava amanhã às 10:00h ou às 22:00h.
Bebi um copo de leite com cacau, ou seria um copo de cacau com leite? Saí de casa eram 11:00h.
Que bom, na minha escola só tiram fotocópias de folhas separadas, e na escola ao lado, só tiram fotocópias de livros da biblioteca de lá. Tenho de entregar os cadernos que me emprestaram, hoje, pois um deles é de Morfologia e Fisiologia Vegetal. Foi um desespero total!
Eram 11:55h. Resolvi que não ia almoçar para poder fotocopiar os dois cadernos algures. Fui ao centro da cidade. Quarenta minutos depois estava de volta, cheia de fome, com umas fotocópias escuras e menos dinheiro no bolso. Estava estafada pois vim a andar bem depressa.
Não houve aulas. Faltaram as fotocópias dos apontamentos ao professor. Fomos dispensados nessas duas horas. Pelo menos adiou a frequência para dia 7 de Janeiro. Teremos no entanto, uma aula suplementar no dia 13 deste mês.
Nos 30 minutos seguintes choveram cadernos e folhas para fotocopiar. Cerca de 2,5 Kg de apontamentos.
Fui ao Centro Comercial fotocopiar três cadernos, deixei as folhas soltas para fotocopiar na escola, deveria ser mais barato. Uma hora depois estava de volta (novamente), juntamente com os seis desgraçados que foram comigo.
Entreguei os cadernos e descobri que haviam folhas simples que tinha de entregar já. Dirigi-me à reprografia da escola, mas o cavalo que trabalha lá, saiu mais cedo.
Também não tive as duas horas seguintes. A professora faltou. Como ainda não tínhamos professora de português, não teríamos também as duas últimas horas.
Sem almoçar, aceitei boleia de um mini que custou 100 contos, mas que eu não dava mais de 5 mil escudos. Fomos novamente ao Centro Comercial fotocopiar as folhas que faltavam. Com dois meses de carta ela conduzia «esquisitamente», ou então era do carro…
Tirei as benditas fotocópias e entreguei-lhe as folhas. Foram-se embora (a dona do carro e a dona das folhas), enquanto eu esperava que me fotocopiassem o novo carregamento de apontamentos. Não queria nada ter de lá ir novamente amanhã.
Com menos 4.500$00 (ao todo) e depois de 1h de esforço no caminho, fui para casa e rasguei a senha do jantar.
Eram 17:15h. Morri mais uma vez quando tive de tirar os quilos de folhas da mala. Deitei-me um pouco para me recompor. Bebi 7,5dl de leite e comi um pão com queijo. Rico almoço e a boas horas…
À noite comecei a passar o caderno de Geometria. O B. não me telefonou de manhã. Estava ansiosa para que fossem 22:00h.
Chegou o Alexandre (neto da Dona Maria Augusta – senhoria) com a sua carrapeta loira (Sandra). Berrou com a avó. Foi tomar banho. Berrou com a Sandra para ela lhe escolher a roupa que ele queria vestir. Jantámos todos, a Sandra também.
Convidaram-me para sair às 21:40h e eu disse que não. Primeiro estava em coma, depois estava a passar o caderno e depois queria falar com o meu homem.
O B. telefonou eram 22:05h. foi relaxante ouvi-lo a dizer que já tinha caído “um colhão de períodos” (na cabine, lol). Eu acredito. Ontem caíram só 30 quando falei com ele. Vivi ou revivi quando ouvi a sua voz a dizer “amo-te”. Finalmente uma boa notícia: vêem duas cartas a caminho. Fiquei de lhe telefonar amanhã.
Amanhã tenho de comprar um saco desportivo. Amanhã tenho de comparar uns cadernos, os que trouxe são minúsculos. Amanhã…
Espero que o amanhã me corra melhor que hoje. Neste momento só tenho a certeza de duas coisas:
1ª - Se isto continua assim, não chego ao Natal.
2ª - E a mais importante…amo o B.

20/02/2007

Só a mim... (1993)

2 de Dezembro de 1993
Quinta-feira


Beja. Horas antes de começarem as aulas. Levantei-me eram 8:20h, 10 minutos antes do despertador tocar. Sentei-me na cama e acendi a luz, nem sabia onde estava. Reparei que na mesa ao canto do quarto estava um prato com dois iogurtes de pêssego e um com cereais. Até agora, nada a reclamar do “serviço de quartos”.
Quando ia a sair do quarto para ir à casa de banho, fiquei com o puxador na mão. Óptimo.
Já na casa de banho e depois de lavar os dentes e a cara, verifiquei que o autoclismo estava sem água, ao abrir a torneira respectiva, fiquei novamente com a mesma na mão. Deve fazer parte da tradição da família.
Depois de pronta e de comer apenas o iogurte com cereais, resolvi ir à escola ver o horário. “Entrei” pela porta errada, ou pelo menos tentava entrar quando o contínuo me fez grandes gestos para contornar o edifício. Depois de andar 3 Km, entrei e subi as escadas laterais onde me haviam informado ontem que estariam afixados os horários. Iria ter aulas à tarde. Até agora nada de novo a não ser o nome das disciplinas por extenso. Eram agora 9:10h.
Localizei as salas onde iria ter aulas e fui à escola ao lado comprar a senha de almoço. Como também era nos Serviços Sociais dessa escola que tinha que entregar papelada, resolvi fazê-lo. É claro que comecei bem: depois de espalhar umas 20 folhas em cima do balcão, pedi à empregada para escolher. Faltava o reconhecimento de uma assinatura, um papel e um carimbo das finanças.
Cada vez melhor, agora só tinha de percorrer metade da cidade e colocá-los no correio para os devolver aos meus pais.
Bem, já que faltavam estes papéis necessários para a inscrição para a Bolsa de Estudos, talvez fosse melhor ir primeiro à secretaria da minha escola entregar os restantes papéis relativos à matrícula, não fossem faltar mais alguns. A secretaria ficava para lá dos correios.
Cinco horas depois, consegui chegar lá sem me enganar no caminho. Novidade das novidades, havia sido transferida para as instalações da minha escola nesse dia.
Bem, já que ficava em caminho, fui como tinha programado, aos correios. Depois de seis tentativas, consegui finalmente fazer a ligação telefónica para casa para avisar o agregado que iam papéis, assim o meu pai poderia mandar a criada (minha mãe) tratar deles…Seguidamente telefonei à minha senhoria, Senhora Dona Maria Augusta, dona da vivenda onde (também) durmo, para lhe dizer que as aulas começavam às 12:40h, e se me poderia preparar o almoço a tempo. Claro que podia. Para isso lhe são pagos 35 mil escudos todos os meses.
Já que estava perto da biblioteca resolvi levantar o cartão de leitor e, depois de metade dos funcionários da biblioteca andarem à procura dele, descobriram-no junto dos outros que estavam nas mesmas condições. Inteligentes estas pessoas…
Resolvi ir dar uma vista de olhos às prateleiras e tive a brilhante ideia de escrever uma carta ao meu amor. Eram agora 11:30h. Já era hora de ir, faltavam só 2 Km para chegar a casa, resolvi parar no banco Nova Rede. Cheguei lá a muito custo pois a mula não conseguia andar mais depressa. Sentei-me (finalmente), e um anormal de fato com uma voz muito simpática, pediu-me desculpas e pediu-me para esperar um pouco que já me atendia. 15 Minutos depois (a sério), começou a atender-me, eram então 12:10h. Concluindo, a caderneta de cheques chegava a “casa” uma semana depois.
Voei para casa, enganei-me uma vez no caminho e fui dar a um beco sem saída, uma rua antes. Voei para a escola praticamente sem comer porque a sopa estava em ebulição. Comi apenas os restos do jantar de ontem.
Entrei na sala eram 13:05h (começaram às 12:40h). Para quem preferia ser discreta, acertei em cheio.
Deparei com um professor que falava com a boca toda aberta, magro e com bigode. Foi ele quem me abriu a porta.
Será que eu estava na sala certa? E se a minha turma mudou de sala? O quadro estava cheio de macacos escritos.
Ele estava a falar na educação grega. Pelo sim, pelo não tirei apontamentos. Vim a saber mais tarde que não havia apagador e os macacos residiam lá desde cedo.
Quando acabou a primeira hora de história da Pedagogia por volta das 13:15h, fui falar com o professor. Concluí pelo que ele me disse que já tinha perdido matéria considerável. Apesar disso senti-me com sorte pois não houve aulas durante mais ou menos um mês. A escola mudou para estas novas instalações. Daí a secretaria ter sido na outra ponta de Beja.
No início da segunda hora houve uma rapariga que me pareceu familiar que “gritou” enquanto acenava: “Fénixxxx…” . Retribui o adeus mas não sei onde é que já a tinha visto. Mais tarde ela disse-me que andava na mesma explicadora do que eu perto da casa dos meus pais. Era a S. Balala (uma vez estimou o comprimento do pénis do namorado metendo uma régua na boca!).
Durante estas duas horas de aula e de vez em quando, havia uma miúda bonita com voz de homem que dava palpites à laia de “sou capaz de acertar em alguma coisa se falar muito”. Mais tarde fiquei a saber que era a Sílvia e que ela era mesmo assim.
Durante as duas horas de Psicologia da Aprendizagem vimos o filme “L´Enfant Sauvage”.
Em Expressão Motora (ginástica como lhe chamávamos no liceu) tivemos duas horas teóricas. Fiquei a saber que iríamos ter na próximo aula duas aulas práticas. Vim para casa mais morta do que viva.
Mais tarde jantei com a Bia ou Bá (resumidamente, foi a ama da minha senhoria e pertencia ao jurássico), a Dona Maria Augusta (nunca percebi se Dona fazia mesmo parte do nome), o Pinóquio (cão) e o Vasco (gatA), que saltava de vez em quando para cima da mesa e ocasionalmente para dentro de um prato.
Depois de alguns arranhões na mão direita e de ver a telenovela, fui-me deitar na minha cama de casal em pau preto, dura e a 1,50 m do chão.
Foi um dia que correu muito bem, aliás como se pode ver. Amanhã vou levantar-me às 8:30h para tomar banho e fotocopiar na escola dois cadernos que me emprestaram. Bom, de qualquer maneira tinha que ir para lá cedo pois ia ter que almoçar (e jantar) à outra escola.
Dormi como uma pedra.

Amigas... vocês não imaginam as coisas que me aconteceram em Beja. Eu queria apenas tirar o curso o mais rápido possível!

19/02/2007

Mais um pouco sobre mim (Abril de 1992)

17 de Abril de 1992
Sexta-feira Santa
Feriado


Mais um dia que vou ficar fechada na vivenda. Os meus pais vão para a loja amanhã mas eu não tenho o direito de escolha, enfim, dizer onde quero ficar ou para onde quero ir...
Combinei telefonar ao B. às 11:30h. Não me canso de dizer que adoro aquele rapaz. É com ele que quero viver, casar, ter filhos, passar férias, etc. Já não consigo viver sem ele. Preciso muito dele e de o sentir perto de mim.
Por vezes sinto que se não fosse ele, eu não teria paciência para lidar com todos os meus problemas. Ele dá-me apoio e sabe como fazer sentir-me melhor. Eu sei dar-lhe o valor que ele merece. Já sofri bastante por nunca me darem valor nenhum.

21 de Abril de 1992
Terça-feira


No Sábado passado sempre consegui ir para a Amadora. Estive com ele.
O L., a S., o N. F., o A., etc., foram para a Madeira e só vêm no Sábado. Eu não fui. Não posso ausentar-me da loja, quanto mais de Portugal Continental, nem que seja para ir à viagem de finalistas…

22 de Abril de 1992
Quarta-feira


O B. e o J. foram ter comigo à loja. Eu estava cheia de dores de estômago. O B. abraçou-me para me confortar. O seu abraço é envolvente. Transmite confiança e protecção. Nem sei como tive a sorte de namorar com um rapaz como ele. È o melhor namorado que uma rapariga pode ter, e é meu!
Quero passar a minha vida a seu lado. Quando formos velhinhos, podemos comprar pantufas iguais, ir para o mesmo lar e babarmo-nos juntos. Eu adoro-o, gosto tanto mas tanto dele que nem sei de onde vem tanto amor, tanta devoção, tanta força de vontade para “lutar” contra os meus pais, para poder ficar com ele, nem que seja apenas cinco minutos. Posso é morrer de ansiedade, mas morro feliz!
Eu nem acredito que tenho saído todos os dias com ele, eu não esperava tanto destas férias!
Encontrei a outra parte da minha laranja…

3 de Maio de 1992
Domingo


Daqui a 21 dias fazemos sete meses de namoro. É pena ser um Domingo, não vou poder estar com ele.
Eu amo-o tanto que não sei como vai ser para o ano, ele na universidade e eu no liceu. Duvido que ele tenha tempo para mim…
Já não consigo passar um dia sem pensar nele pelo menos 5000 vezes.
No outro dia disse-me que casaríamos no ano 2000 ou então, casaríamos antes e faríamos um filhote no dia 31 de Dezembro de 1999.

Acabámos por casar e ser pais, mas não nestas datas...

18/02/2007

Vou finalmente tirar um curso! (93-97)

Como fui lá parar:

Na primeira época (Julho) concorri para Psicologia, para a universidade estatal e particular. Não entrei. Lembro-me do B. andar a ver as pautas comigo e a repetir «deve haver aqui algum erro...». O meu pai só me dizia entre coisas muito piores e com muitas asneiras pelo meio, “pensas que eles querem lá burros?”.
Na segunda época (Setembro), concorri para as poucas vagas que haviam. Uma das que me interessava e estava relacionada com a minha área (ciências), foi a de Professores de Matemática e Ciências. Concorri. O critério de preferência na escolha das várias universidades com vagas para este curso foi a da distância à minha casa.
Primeiro as mais próximas: Beja, Évora, Portalegre, e mais três de que não me recordo.
Depois de saírem os resultados, só tinha três dias úteis para me inscrever na universidade em que tinha entrado. Os resultados saíram inesperadamente cerca de cinco dias mais cedo. Ninguém estava à espera.
Foi graças à S. que me pude ir inscrever. Ela passou por lá e telefonou para a loja. Foi a minha mãe que atendeu. Eu tinha entrado para Beja, haviam apenas três vagas para o Curso de professores do ensino básico. Quando cheguei da rua, a minha mãe ainda estava a chorar. Pensei que tinha morrido mais algum velhote do lar aqui ao lado. Foi a custo que consegui compreender o que dizia. Não tenho a certeza se o B. tinha chegado comigo, mas lembro-me de ele me dizer «eu sabia que ias conseguir entrar».
Fui à tipografia (cave) dar a notícia àquele que se intitula meu pai. Lembro-me que ele estava a cortar papel na guilhotina automática.
(…)«só tenho três dias para me inscrever, tenho de ir a Beja» (…)
Ele não foi capaz de dizer uma única palavra. Nem sequer olhou para mim…
Dois dias depois (Domingo), fomos a Beja, eu e o meu pai, ele estava (como sempre) chateado com a minha mãe. Não falavam. Levei logo as malas. As aulas já tinham começado em fins de Setembro, princípios de Outubro.
A despedida do B. foi muito dolorosa para nós. Chorei muito.
Em Beja qualquer indicação que pedíssemos ia dar ao Jardim do Bacalhau. Demos duas voltas à cidade até encontrarmos a universidade.
Afinal tinha mudado de instalações. As aulas só começariam em Dezembro. Para mim foi muito bom. Tive tempo para me mentalizar.
Depois de tratarmos de alguma papelada fomos procurar um sítio para eu “morar”. Não encontrávamos anúncios e ninguém sabia de nada. Vimos duas freiras e o meu pai teve a “feliz” ideia de lhes perguntar se conheciam alguém que alugasse quartos a estudantes. Levaram-nos a duas casas, na primeira já não havia quartos portanto, fiquei na segunda.
Trinta e cinco mil escudos com refeições. Seria a Dona Maria Augusta que trataria delas. Voltámos para casa. Penso que os dias seguintes (4 ou 5) foram os únicos dias em que o meu pai mostrou algo parecido com orgulho, embora não tivesse nada a ver com esse sentimento, primeiro porque ele não tem sentimentos, depois porque ele não sabe o que é ter orgulho. Repugna-me que tenham sido necessários vinte anos para ele demonstrar isso. Espero sinceramente não ter de voltar a sentir o que senti.
A família toda, incluindo a minha avó, foram levar-me a Beja dois dias antes de recomeçarem as aulas. Só lá voltaram no dia da Benção das pastas em 1997.

Sim, acabei o curso em 4 anos!!!!!!


Amanhã publico coisas mais alegres, prometo!
Aliás tudo o que é «cromo» sempre veio ter comigo... lol

17/02/2007

Dia em que o meu pai conheceu o B. (continuação)

Deixei sair a cliente, deixei passar alguns minutos, e desci para a tipografia. Lembro-me de dizer:
Ele já chegou. Como é que fazemos sobes tu, ou ele desce? - perguntei eu.
Já está lá em cima? - perguntou o meu pai.
Já.
É melhor ele descer...
Agora estava mesmo nervosa...
Lá em baixo, o B. disse:
Posso entrar Sr. A.?
Entre.

Este é o B., este é o meu pai. – Fiz as apresentações formais.
Começou o B.:
Bom, eu vim aqui para falar consigo, quis vir conhecê-lo.... Não é uma boa altura, mas aproveitámos o facto de eu ter tido folga e de ela ter cá vindo...Já nos conhecemos há muito tempo, desde os tempos do liceu...Resolvemos tirar os cursos, ela foi para ****, eu tirei o meu curso em *****, ficámos bastante tempo sem nos vermos...Encontrámo-nos em **** por acaso, eu tive que lá ir tratar de umas coisas com o chefe de secção de lá... Tenho 27 anos, sou 3 meses mais velho que ela...
Se o visse na rua já não o conhecia, está diferente...(pois claro, entre outras coisas, já não usa óculos porque foi operado)... Tem de fazer também uma operação por causa do cabelo, já tem pouco aí à frente...Quais são as suas intenções...Eu tive de bater na minha mulher quando me casei, ela era uma criança, eu tive de acabar de a educar, sou mais velho do que ela 11 anos... a minha filha tinha para aí uns 21 anos e eu dei-lhe uma bofetada porque ela me respondeu mal...Mas eu não aconselho isso, porque nem ela é um bombo, nem você....Se vocês mais tarde se separarem, a casa é dela..., é vossa...Eu adivinhei logo que era o senhor quando ela me disse que me queria apresentar uma pessoa, por ai já vê que não lhe conheci mais ninguém...Para ela não vir a ser uma qualquer, nunca a deixava ir a excursões com a escola, nunca se sabe, no meio das confusões...
Muito mais tarde, cerca das 11:30h saímos da tipografia dizendo que íamos almoçar juntos...
Fomos ter com a R. (ex-namorada do meu irmão) ao café. Ela estava também muito triste por causa da minha avó ter falecido. Alegrou-se também com este circo todo que lhe contámos...
Quando saímos do café o meu irmão fez-se “Manuel da horta” e disse ao meu pai “Então a Fénix está a namorar com aquele rapaz?”
Ela já é maior e vacinada, não tenho nada a ver com isso. Ela é que sabe da vida dela...
Ele estava muito contente por ter sido o primeiro a saber...
QUE TRISTEZA!

16/02/2007

A minha avó (M.C.)

É normalmente uma senhora idosa. A minha reconhecia-se facilmente por estar sempre a mastigar a dentadura, por estar sempre a fazer as mesmas perguntas e por nunca saber da carteira. Gosta muito dos netos.
Desde 1997 que não se sabia localizar cronologicamente. Adorava-a.
Chamava-se M. C. (parece o nome de um rapper), nasceu em Junho de 1922 e faleceu em Fevereiro de 2001.
Foi sempre uma pessoa muito bem disposta até ao fim da vida... no lar era conhecida por M. C. Ri-te Ri-te.
Foi a ela que recorri quando chumbei no exame do 9º ano para o 10º ano. Tivemos que fazer exames orais e escritos a todas as disciplinas. Era assim nos colégios particulares («coitadinha da menina, não pode ir para o liceu»... e contra a vontade tive que continuar no colégio...). Mas isso é outra história...
Até depois de morrer a minha avó me ajudou... Foi assim que consegui que o meu pai conhecesse o B.

O Dia D
10/02/2001 - Sábado

A minha avó faleceu no dia 8 de Fevereiro de 2001. Foi a enterrar no dia seguinte, dia 9 de Fevereiro (sexta-feira).
No dia 10, Sábado, o meu pai foi trabalhar para a loja/tipografia porque tinha uns convites de casamento para fazer. Eram cerca de 9:30h quando ele estava a tomar o pequeno almoço, e eu perguntei-lhe se ia embora (sabendo já que não).
Não, porquê? – perguntou ele.
Porque te queria apresentar uma pessoa.
Quem?
Depois vês. - disse eu já a sair de perto dele.
Mas quem é? Algum gajo? - perguntou ele como se eu fosse sei lá o quê...
É.
Não me digas que é aquele que costumava vir aqui à loja, aquele que eu costumava chamar “Cãozinho”?
(Isto porque supostamente eu andaria com o cio e o B. não saía de perto de mim... enfim.)
É. Então mas o que é que ele faz? Trabalha aonde?
Depois perguntas-lhe.
Então mas eu não lhe vou perguntar onde é que ele trabalha...
Então porquê?... Ele é chefe de secção no *******.
Isso todos dizem...que são chefes... Mas o que é isso?
Toma conta da secção de ***** , de ***** e de *****.
Ó A. vem cá baixo à loja, está aqui uma senhora para falar contigo... - gritou a minha mãe.

Fui salva pelo “gongo”!...

(continua...)

Notem que comecei a trabalhar em 1993 e só vinha a casa aos fins-de-semana. A única coisa que eu queria era «que não sobrasse» para a minha mãe. Tudo foi feito como ela pediu e com o conhecimento dela. E realmente foi o melhor que fizemos...

(Por esta altura, o meu irmão ouviu o meu pai a comentar com a minha mãe que eu se calhar era «fufa». Fartámos-nos os 3 de rir...)

Nota - Este Dia de São Valentim houve direito a camarão tigre, espumante, postais, profiteroles e um DVD duplo que adorei receber: A odisseia da vida (In the womb).

15/02/2007

O irmão (R.)

Faz o que quer, mesmo que lhe tirem a mota (que já não tem porque o meu pai a vendeu sem a sua autorização, afinal o meu pai era o DONO), o tranquem em casa, não lhe dêem dinheiro ou lhe fechem a porta para que não volte a entrar em casa.
Em pequeno era “sopinha de massa”, ou seja, não dizia os rr nem os ll, e punha a língua para fora para dizer os ss.
Nasceu, segundo a minha mãe, porque a bolinha de sabão saiu.
Eu explico: a minha mãe teve em 1979 uma menopausa precoce, então a médica disse-lhe que teria de deixar de tomar a pílula. Como o meu pai não quis usar preservativo, a minha mãe recorreu a uma vizinha que fazia bolinhas de sabão de seda que teriam de ser colocadas no interior da vagina antes de cada relação sexual.
Nove meses depois nasceu o meu irmão, verde e com sete cabelos brancos. Verde porque teve o azar de querer nascer na altura em que mudava o turno das enfermeiras. As que iam a sair retardaram o parto, e as que entraram, provocaram-no.
Conclusão o meu irmão ficou um pouco baralhado (até hoje) e assim que se decidiu a nascer, foi directo para uma incubadora.
A acrescentar a isto só posso dizer que na altura da queca (segundo minha mãe) o meu pai estava com 40ºC de febre.
Em bebé chamavam-lhe o 215. Como não tinha ainda nome, chamávamo-lo pelo número da pulseirinha verde que tinha no pulso ainda na maternidade.
É facilmente reconhecível porque sempre que demora mais de cinco minutos na casa de banho, já todos sabemos que a casa vai ficar a parecer uma câmara de gás.
Onde pode se encontrado: Quando não está a dormir, está a cagar. Quando não está a cagar, está a dormir. Em último caso, está a comer.
Chama-se R. e nasceu em 1980, tinha eu 7 anos.
É professor de educação-física e ainda dorme na casa dos meus pais. O meu pai não fala com ele há mais de 3 anos (às vezes ainda o insulta) e já ninguém se lembra porquê, acho que nem o meu pai...

(Desculpem a linguagem)

14/02/2007

Doce de S. Valentim (2 pessoas)

Doce de S. Valentim
(2 pessoas)

Deite meio litro de ternura e uma colher de abraços num recipiente escolhido pelo casal. Pegue numa colher de pau e misture muito bem as 200gr de beijinhos simples com as 150gr de carícias. Deixe alourar o conteúdo do recipiente, por forma a que o resultado final do doce não seja muito mole ao consumir. Depois desta fase adicione uns apalpões espaçados e cortados em rodelas.
Sobre o recipiente verta agora «festinhas mansas» e acrescente em seguida um pacote de palavras bonitas, uma colher de sopa de sorrisos picados, misture muito bem até adquirir o produto final.
Modo de consumir: Deve ser consumido num local romântico, à luz de velas, com música romântica e compassivamente. A receita indicada apenas é aconselhada para uma dose de duas pessoas.
Bom apetite.

Nota - Obrigado Carina do «Bloco de Notas», sugestão aceite e efectuada.

Dias (e perto do dia) de S. Valentim


14 de Fevereiro de 1992
Terça-feira
Dia dos Namorados

Recebi em mão a primeira carta dele. Acho que as suas palavras dispensam os meus comentários:
Fénix: «Desculpa o mau jeito, mas eu nunca o tive nestas coisas de escrever cartas de amor, se bem que poderia dizer-te coisas muito bonitas, mas sinceramente, não tenho muito jeito para as escrever, prefiro dizer-tas, e também, já agora, como saberás, a linguagem, tanto escrita, como falada, é tão pobre no que se refere a exprimir sentimentos, que não me atrevo a dizer-tos aqui.
Tudo o que possa dizer-te aqui será sempre pouco, portanto, a única coisa que te posso dizer, é que te adoro, que és muito especial para mim, que nunca conheci ninguém como tu, que o facto de teres aparecido na minha vida, lhe provocou uma viragem completa, e que a tua imagem, invade por completo o meu pensamento 28 horas por dia.
Agradeço-te por existires.»
****
13 de Fevereiro de 2002
Quarta-feira

Amanhã é dia dos namorados.
O B. continua sem emprego. Hoje recebeu um telefonema para ir a uma entrevista na segunda-feira, espero que consiga trabalho.
Fomos ao Colombo e comprei o «Guia Prático da Gravidez», sou uma grandecíssima parva não sou? Sei que sou uma parva a caminho dos 29 anos...
Vamos casar em Maio.
****
11 de Fevereiro de 2003
Terça-feira

Fui hoje mostrar os exames à ginecologista e ela disse que estava tudo muito bem e que podíamos avançar (45 Euros).
Ela disse que agora quando lá fosse novamente já teria que ir acompanhada (grávida).
Receitou-me Ácido Fólico que ainda não comprei.

****
2 de Fevereiro de 2004
Segunda-feira

Neste momento estou grávida de 52 dias e estou a perder sangue muito diluído.
Merda de vida!!!
*****
Segunda-feira, 27 de Fevereiro de 2006 9:36
B. por e-mail

«Olá,apanhei um stress hoje! Primeiro não encontrava o cinto, depois saltou o parafuso do cinto tive que ir ao quarto do/da bebé buscar a caixa das ferramentas, depois tive que andar a enfiar os sacos no carro parecia um cigano com as caixas dos CDs para ir vender à feira. As caixas não cabiam levei-as no banco de trás. Também não podias ter posto mais umas caixinhas!! Ainda cabiam mais duas ou três!
Beijos, B.»

(Explicação: Sacos de roupa usada para a minha mãe doar, e caixas de CDs’s vazias, para o meu irmão).
****

Mano, sei que prometi um post sobre a tua pessoa para hoje, desculpa lá...
Fica para amanhã...

13/02/2007

Sobre mim... e o uso das correntes (1997)

O meu marido (B.) não sabe que tenho este blog. Talvez não concordasse. Sabe que sofri muito e que lembrar pode desenterrar o que já, mais ou menos, quase, talvez, me esqueci.

Quem sabe um dia lhe conto?
No entanto falei ontem com o meu irmão ao telefone e contei-lhe. Sei que fez dois comentários. Um deles no post «O meu pai», talvez queiram ler...

No meio da desgraça toda que passámos ainda nos rimos... Acho que ele vai gostar de relembrar que conseguimos sair dali com a cabeça erguida e quem sabe dar mais valor ao que conquistamos até agora...
Lembrei-me agora de uma frase que a minha mãe ouviu de uma vizinha há poucos meses:

«Ó D.ª C., apesar de tudo você teve muita sorte com os seus filhos, podiam ter dado em drogados, ladrões ou pior...»

Agradeço muito a quem me vem visitar e gostaria que me ajudassem a orientar melhor este blog. O que gostariam de saber (que eu possa dizer, claro),o que poderia mudar no blog, etc.

Em resposta à pergunta de «Amor às rodelas», sou professora do 1º Ciclclo.

Hoje resolvi passar umas folhas no meu diário e fui parar a 1997.

Os meus pais têm (como já vos disse) uma tipografia (na cave), uma loja (no r/c) e uma casa por cima da loja. Esta casa foi feita sobre o tecto falso da loja (a porta de saída é mesmo pela loja). Quando viemos para Portugal (de Angola) não tínhamos nada, e foi a maneira que os eus pais arranjaram para termos um negócio e uma casa improvisada. Depois mais tarde, comprou um terreno e contruiu uma vivenda enorme. Pensáva que nós (filhos) queriamos aturá-lo o resto da vida..

27 de Dezembro de 1997
Sábado

Dias 23 e 24 deste mês o meu pai trancou-nos a mim e ao meu irmão na loja, com um cadeado e correntes para não podermos sair à noite. Tudo isto porque não quisemos ir com eles dormir à vivenda.
Neste momento diz que foi por causa dos ladrões, para eles não entrarem, então e se houvesse um incêndio? Como é que nós saíamos?

Conclusão: O R. (meu irmão) saiu pelas janelas de trás para ir ter com a R. (namorada), e o B. entrou pelas da frente.

Imaginem, que éramos presos por pensarem que éramos ladrões?

12/02/2007

Post levezinho (Janeiro de 1992)

11 de Janeiro de 1992
Sábado

Chegou à loja eram 10:15h. Ao chamar-me a minha mãe disse:
«Vem cá baixo à loja porque estão aqui os teus tios e o teu.. colega.»
Passado pouco tempo chegou o J.
«Tens uma camisola muito gira.» – Disse-lhe eu.
«Vá, vá…» – Disse o B. na brincadeira.
Passei os dedos pela camisola para ver se a lã era fofa.
«Então o que é isto?» – Perguntou o B. enquanto lhe fechava o casaco. – «Tens uma camisola mesmo feia!»
Colocou-se entre nós e, virando-se para mim disse:
«E escusas de estar a olhar para ele!»
Começamos todos a rir. Foi muito engraçado.
Éramos para sair à tarde. Ele não apareceu, deve ter saído com os pais.

12 de Janeiro de 1992
Domingo

Amanhã ele vai buscar-me às aulas da manhã como de costume. Eu estava a pensar em faltar às aulas da tarde mas ele vai ter teste de filosofia à noite e eu não quero que ele tenha novamente 8 valores. Tem que estudar.
No outro dia ele disse-me assim:
«Não sei o que é que fiz para te merecer, devo ter feito alguma coisa muito boa.»
O B. confessou-me que a mãe tem ciúmes de mim.
Nunca fui tão feliz em toda a minha vida, nem quando encontrei o óvulo, lol…

13 de Janeiro de 1992
Segunda-feira

O B. já estava à minha espera quando saí para o intervalo. Depois de muitos beijinhos e a braços, disse-me:
«Não me apertes muito, dói-me o braço.»
«O que é que te aconteceu?»
«Espalhei-me. Só me lembro de ir a correr para a cozinha com uma garrafa na mão. O chão estava escorregadio e… dei por mim deitado no chão a olhar para o meu chinelo que foi parar em cima do frigorífico. O meu pai fartou-se de gozar comigo!…»
Mostrou-me então o pulso ligado com uma ligadura branca.
Ainda hoje me farto de rir quando leio isto!

Em resposta ao comentário da Gio: Nunca foi uma questão de idade... Ele mandava e nós obedecíamos. Era ele quem nos sustentava. Quem não estivesse bem que se mudasse... A minha mãe trabalhou sempre para ele. Ele era o DONO da loja, da tipografia, da vivenda (enorme), da casa por cima da loja, de dois carros... e de nós...enfim. Ela nunca teve ordenado e nós nunca tivemos quem nos ajudasse. Tínhamos-nos a nós os três (eu, mãe e irmão).

Primeiros dias de Janeiro de 1992

1 de Janeiro de 1992
Quarta-feira - feriado

É verdade, mais um feriado, eu odeio feriados. Por cada um que passa parece que não vejo o B. há um mês.
Não combinámos nada para amanhã. Se ele for à loja dos meus pais lá por volta das 10 horas, já só faltam 15 horas... Se eu ao menos tivesse liberdade de telefonar… nem isso me deixam fazer.
Espero que se tenha divertido na passagem de ano mais do que eu, também não será difícil…pelo menos que te tenhas lembrado de mim à meia noite como tínhamos combinado.
“Gostava de estar contigo na passagem do ano para te poder beijar à meia noite, mas de qualquer forma, vai ser a primeira coisa que farei quando te vir”.
Mais uma vez não sei se poderei sair com ele amanhã. Passamos o dia metidos dentro da loja, com toda a gente a olhar para nós...“É chato, mas eu compreendo, e não é sacrifício nenhum eu vir ter contigo.” Se eu tivesse encomendado um rapaz assim, de certeza que não vinha tão perfeito.

2 de Janeiro de 1992
Quinta-feira

O meu pai resolveu ir para a loja sozinho sem perguntar nada a ninguém. Está amuado (outra vez) e ninguém sabe porquê. Aqui perto da vivenda não há transportes e eu não tenho ordem de «soltura»... Que tristeza.
Com tudo isto depois de acordar às 7:30 h, fiquei com uma terrível dor de cabeça não consegui dormir mais. Às 9 horas, telefonei ao B. não fosse ele ir lá à loja e dar de caras com o meu pai. Ainda estava a dormir, mas iria lá mais tarde.
“Vai dormir mais um bocadinho e depois telefonas-me para aqui.”
Dei-lhe o número. Só espero que a minha mãe não comece a refilar comigo.
Falei com ele, estava em casa do L. Ouviam-se perfeitamente as vozes dele, do A. e do J.
Estava com medo que o meu pai resolva dormir na loja, isso significaria que amanhã também não poderia ver o B. Depois de algum suspense lá chegou por volta das 20 h.
Amanhã de manhã, digo à minha mãe que vou ao supermercado, e vou telefonar-lhe a dizer que estou na loja e para ele lá ir ter.

Que vida... não posso sair, não posso telefonar, não posso namorar, não posso nada...estou destinada à clausura.

11/02/2007

27 de Novembro de 1991

Quarta-feira

Fiz uma festazinha aqui em casa depois das aulas. Foi apenas para comemorar as minhas noites de independência em relação aos meus pais.
Vieram o B., o L., o A., o J. e a S.
Não fiquei bêbeda, mas andei tonta uns tempos, lol.
Resolvemos misturar umas bebidas alcoólicas que estavam aqui em casa há séculos (já devia ter evaporado todo o álcool), a variedade era muito pouca: anis, água ardente, talvez vinho, talvez cerveja, talvez mais uma ou duas variedades.
O L. estava tão compenetrado a fazer bebidas bonitas que ia misturando Sonasol Verde numa...

Foi o primeiro momento de liberdade na minha vida... Tinha 18 anos.

10/02/2007

A minha mãe (C.)

Normalmente é uma mulher. A minha é uma máquina que passa 95% do dia a trabalhar, os outros 5% são para necessidades básicas de sobrevivência. Diz que ninguém a ajuda. Limpa uma loja (onde trabalha), uma tipografia (na qual faz outros trabalhos), duas casas e dois carros.

As suas afirmações preferidas são:
“Eu sou uma desgraçada. Ninguém me ajuda!”;
“Quando será que Deus me leva, para deixar de sofrer?!”.

Tenho que lhe chamar mamã, embora nunca me tenha explicado porquê.
Em pequena era “conhecida” por C. Branca das Neves Leite e Cal, nasceu em Abril de 1954.
É uma GRANDE mulher...

O meu pai (A.)

Antes de mais gostava aqui de deixar uma pequena frase que ouvi há muitos anos e que nunca esqueci:
Todos os homens podem ter um filho, mas nem todos podem ser PAIs.

Frequentemente é um homem, neste caso é um austrolopiteco. Há também quem lhe chame um cromo raro. Não acredita em dinossauros e tem frequentemente ataques de diarreia mental. É facilmente reconhecido por ser o mais alto da família, o que diz mais asneiras, o que mais se contradiz, o mais antiquado, o que ressona mais alto. Tem por costume deitar as culpas de tudo à mãe e durante as refeições está encarregado de dizer: “Onde é que está o feijão?” Quando era pequeno, os irmãos puseram-lhe a alcunha de Trovoada, devido exactamente aos efeitos do feijão.

A sua família primária é constituída por mais quatro irmãos mas está chateado com todos eles, segundo a versão oficial. Pessoalmente penso que eles não tiveram foi mais paciência para o aturar. Tem por hábito dizer o preço das prendas que oferece à família, a qual gosta de envergonhar em público. O seu principal contributo para a educação dos filhos é: “Vocês são uns anormais, não sabem fazer nada. Saem à vossa mãe!”.

Frases famosas:

“As mulheres vão para a praia fazer popless (…) com os pantelhos de fora”;

“Os cientistas não têm nada para fazer e então inventaram os dinossauros. Se eu quiser também ponho ali umas pegadas no cimento e daqui a uns anos digo que foram os dinossauros”.

Tenho que lhe chamar papá, quando a minha vontade era a de lhe chamar nomes que nem vêm no dicionário mais ordinário de calão. Nasceu em Abril de 1943.
Sim, é mais velho que a minha mãe 11 anos...

09/02/2007

Dezembro de 1991

29 de Dezembro de 1991
Domingo

Comecei a namorar com o B. no dia 24 de Setembro. Ele é incrivelmente carinhoso, nunca conheci ninguém assim… Basta que ele me faça “aquele” olhar e eu, além de me derreter toda, percebo o que sente por mim.
É um rapaz assim que eu tenho vindo a pedir ao Pai Natal há alguns anos… Este Natal para mim não foi o dia 25 de Dezembro mas o dia 24 de Outubro.
No outro dia quando fizemos dois meses de namoro, ele perguntou-me muito sério:
- Por que não te conheci mais cedo? Perdi dezassete anos e meio da minha vida. Onde é que andaste que eu não te vi?
Isto dito no meio de um abraço apertado, fazia derreter até um diamante!
É verdade, e a minha mãe já sabe do namoro. No outro dia esteve a repreender-me por eu lhe ter oferecido um urso de peluche e não um fio ou uma medalha.
A família dele ainda não sabe que ele namora, a mãe depois de ver a prenda apenas disse:
- Tem bom gosto.
A S. e o L. vão fazer em Abril um ano de namoro. Como será quando eu e o B. também fizermos? A vida é engraçada, quando as aulas começaram em Setembro, olhei para o B. e pensei: “Aí está um rapaz interessante, é um assim que precisas para te fazer feliz”, mal eu sabia que mais ou menos um mês depois ia estar a namorar com ele. Foi tiro e queda! Como eu costumava dizer: “O Cupido em vez de me acertar com uma seta, acertou-me com um machado.” Encontrei finalmente a minha felicidade, cheguei ao paraíso.
O postal que lhe ofereci no Natal descreve perfeitamente como me sinto:
“Se eu tivesse de te contar a história da minha vida, resumia-a às coisas mais importantes que me aconteceram: a primeira coisa foi ter nascido, e a outra, ainda mais importante, foi ter-te conhecido(…). Se eu precisasse de escrever tudo o que sinto por ti, um milhão de folhas não chegavam para te dizer um décimo!”
Já não consigo passar um fim de semana sem estar constantemente a pensar nele e, como ele próprio diz, isto é um vício, é como se fosse uma droga que quanto mais tomamos, mais queremos tomar. O B. já me confessou que sente a mesma coisa em relação a mim e está sempre a dizer: “Nunca mais começam as aulas…” A verdade é que temos mais liberdade na época escolar. Amanhã ele vai lá à loja, eu disse-lhe para ele ir mais tarde por volta das 10 horas e não das 9:15 h por causa do meu pai. Ele respondeu-me:
“Só se eu conseguir…”
Já sei que o mais provável é eu não poder sair da loja para estar com ele. Há muito tempo que não estamos uma hora só nós dois…
Se as saudades pagassem imposto, eu estava toda carimbada!

08/02/2007

Setembro de 1991 - Dias antes do namoro

17 de Setembro de 1991
Terça-feira

O telefonou-me o B. do Algarve tal como tinha prometido, para saber o resultado da oral a físico-química que eu fiz ontem. (Chumbei porque tive 7,6 valores.)
Infelizmente não fui eu que atendi. Não estava em casa porque tive de me ir matricular e passei 500 horas na fila. Quem atendeu foi o meu pai, o que fez com que o B. ficasse a saber o mesmo porque o meu pai disse-lhe que não era criado de ninguém para dar recados.

24 de Setembro de 1991
Terça-feira

Passei pela primeira vez na minha vida, a noite sozinha em casa. Os meus pais foram dormir à outra casa e deixaram-me sozinha! Eu estava prestes a renascer...

Introdução e o meu marido (B.)

Não é possível fazer uma introdução à minha vida ou pelo menos às coisas que escreverei neste blog. Posso no entanto tentar não falar no meu marido:
Ele foi a pessoa que mais marcou a minha vida, a seguir ao médico que disse à minha mãe para deixar de tomar a pílula 3 meses depois de casar.
Este breve resumo das minhas vivências foi feito tembém para esse Homem que eu tanto amo (não é o Marco Paulo), TU! Espero que te faça recordar e reviver coisas que se passaram entre nós e que já estavam no “cesto dos papéis”, ou que te dê a conhecer coisas que ainda não sabias.
As diferenças que este blog tem em relação aos outros é: lê-se muito melhor, não tem asneiras nem descrições obscenas (bolas, agora já perdi metade dos leitores!) e será escrito com humor, sempre que possível.
Haverão textos aqui, que me custarão muito relembrar e escrever. Alguns, demorarei semanas até conseguir passar tudo para o computador, simplesmente porque foram coisas que me magoaram muito. Cada palavra que escrevo me fará relembrar um momento triste, uma desilusão, uma mágoa (ou espero eu) muitos momentos felizes. Talvez chegue até a chorar. Também esses são para serem lidos e meditados.
Se quiserem um conselho, pelo menos era isso que eu faria, saboreiem cada frase e lembrem-se sempre de uma coisa,

RENASCER É POSSÍVEL!
AMO-TE MARIDÃO

Uma coisa muito importante: NÃO DEIXEM ESTE BLOG AO ALCANCE DOS “ADULTOS”!

Fénix porquê?

A Fénix pode representar a nossa constante capacidade de renovação. É importante aprendermos com ela. Ressurgir das cinzas é algo imperativo para nós. As cinzas representam a nossa fraqueza. É impressionante a capacidade humana de nos reerguermos sempre.

Diante de um trauma, o nosso primeiro sentimento é de dúvida. Não acreditamos que aquilo possa estar acontecer connosco. Em seguida, vem o desânimo e o sentimento de abandono… Após o choque, lentamente as coisas vão melhorando.
O sorriso volta ao nosso rosto e com ele a esperança.
Com algum humor, (como não poderia deixar de ser) vou tentar contar-vos um pouco mais de mim…

Vamos então começar?