18/02/2007

Vou finalmente tirar um curso! (93-97)

Como fui lá parar:

Na primeira época (Julho) concorri para Psicologia, para a universidade estatal e particular. Não entrei. Lembro-me do B. andar a ver as pautas comigo e a repetir «deve haver aqui algum erro...». O meu pai só me dizia entre coisas muito piores e com muitas asneiras pelo meio, “pensas que eles querem lá burros?”.
Na segunda época (Setembro), concorri para as poucas vagas que haviam. Uma das que me interessava e estava relacionada com a minha área (ciências), foi a de Professores de Matemática e Ciências. Concorri. O critério de preferência na escolha das várias universidades com vagas para este curso foi a da distância à minha casa.
Primeiro as mais próximas: Beja, Évora, Portalegre, e mais três de que não me recordo.
Depois de saírem os resultados, só tinha três dias úteis para me inscrever na universidade em que tinha entrado. Os resultados saíram inesperadamente cerca de cinco dias mais cedo. Ninguém estava à espera.
Foi graças à S. que me pude ir inscrever. Ela passou por lá e telefonou para a loja. Foi a minha mãe que atendeu. Eu tinha entrado para Beja, haviam apenas três vagas para o Curso de professores do ensino básico. Quando cheguei da rua, a minha mãe ainda estava a chorar. Pensei que tinha morrido mais algum velhote do lar aqui ao lado. Foi a custo que consegui compreender o que dizia. Não tenho a certeza se o B. tinha chegado comigo, mas lembro-me de ele me dizer «eu sabia que ias conseguir entrar».
Fui à tipografia (cave) dar a notícia àquele que se intitula meu pai. Lembro-me que ele estava a cortar papel na guilhotina automática.
(…)«só tenho três dias para me inscrever, tenho de ir a Beja» (…)
Ele não foi capaz de dizer uma única palavra. Nem sequer olhou para mim…
Dois dias depois (Domingo), fomos a Beja, eu e o meu pai, ele estava (como sempre) chateado com a minha mãe. Não falavam. Levei logo as malas. As aulas já tinham começado em fins de Setembro, princípios de Outubro.
A despedida do B. foi muito dolorosa para nós. Chorei muito.
Em Beja qualquer indicação que pedíssemos ia dar ao Jardim do Bacalhau. Demos duas voltas à cidade até encontrarmos a universidade.
Afinal tinha mudado de instalações. As aulas só começariam em Dezembro. Para mim foi muito bom. Tive tempo para me mentalizar.
Depois de tratarmos de alguma papelada fomos procurar um sítio para eu “morar”. Não encontrávamos anúncios e ninguém sabia de nada. Vimos duas freiras e o meu pai teve a “feliz” ideia de lhes perguntar se conheciam alguém que alugasse quartos a estudantes. Levaram-nos a duas casas, na primeira já não havia quartos portanto, fiquei na segunda.
Trinta e cinco mil escudos com refeições. Seria a Dona Maria Augusta que trataria delas. Voltámos para casa. Penso que os dias seguintes (4 ou 5) foram os únicos dias em que o meu pai mostrou algo parecido com orgulho, embora não tivesse nada a ver com esse sentimento, primeiro porque ele não tem sentimentos, depois porque ele não sabe o que é ter orgulho. Repugna-me que tenham sido necessários vinte anos para ele demonstrar isso. Espero sinceramente não ter de voltar a sentir o que senti.
A família toda, incluindo a minha avó, foram levar-me a Beja dois dias antes de recomeçarem as aulas. Só lá voltaram no dia da Benção das pastas em 1997.

Sim, acabei o curso em 4 anos!!!!!!


Amanhã publico coisas mais alegres, prometo!
Aliás tudo o que é «cromo» sempre veio ter comigo... lol

5 comentários:

mimika disse...

Com a situação familiar que tinhas, de alguma forma, até deve ter sido bom estares "ausente" esses 4 anos. O mais difícil mesmo deve ter sido agunetar a distância do B. (pelo que entendi ficaram longe um do outro).

Achei piada à parte em que qualquer indicação ia dar ao Jardim do Bacalhau lol.

Qt ao humor dos textos...deves relatar o que quiseres mesmo que isso implique "parecer um velório", como tu dizes. O engraçado é que no meio das "desgraças" nós mtas acabamos por rir...ou do caricato das situações ou porque tem mesmo graça!

bj e continua!

María disse...

Pelo menos deixou-te tirar um curso, a ti e ao teu irmão..podia-lhe dar para não vos deixar saír de casa para tirar o curso..deves ter sentido alguma paz, nesses 4 anos..

María disse...

Vi agora que és caranguejo! Não sou, mas sou Balança, ascendnte caranguejo!

Unknown disse...

Grandes anos devem ter sido... longe de tudo e de todos..

parabéns por teres sempre tanta coragem..

Gio disse...

Cá estou eu a por-me em dia com as novidades.